Como o julgamento do mensalão, as acusações contra a Delta na CPI do Cachoeira e as eleições municipais dividiram o partido entre a turma de Lula e a turma de Dilma
Uma linha divide a estrela do PT. Seu nome: mensalão. De um lado, estão
os acusados no maior escândalo de corrupção do governo de Luiz Inácio
Lula da Silva, como José Dirceu e José Genoino. De outro, os integrantes
do governo de Dilma Rousseff, que querem distância da banda enrolada do
partido. Alguns membros do Partido dos Trabalhadores já levantam a tese
dos “dois PTs”. O PT de Lula e o PT de Dilma. O primeiro lado é o
defendido pelo ex-presidente, que, no afã de proteger seu legado, operou
nos bastidores para adiar o julgamento do mensalão. Agora que foi
marcado, ele tenta minimizar os prejuízos dos “réus companheiros”. Na
outra ponta, a presidente Dilma e seu governo sabem que só têm a perder
com o envolvimento com o “outro lado”. O PT de Lula, afinal, é o
passado. O de Dilma é o futuro.
Há outros sinais da divisão no PT. A atitude da senadora Marta Suplicy
na campanha eleitoral deste ano em São Paulo expôs as fragilidades do
centralismo nas decisões petistas. Preterida em favor de Fernando
Haddad, Marta decidiu enfrentar Lula. Assim, deixava claro a Dilma com
qual dos dois PTs pretende ficar. Outro indício foi o desconforto de
Lula com a atitude do governo federal, que deixou que a CPI do Cachoeira
– incentivada por Lula contra os interesses da presidente da República –
quebrasse os sigilos da empreiteira Delta. O PT, com isso, quase perdeu
o controle da comissão. O cochilo, segundo ÉPOCA apurou, embute a
estratégia de uma ala do governo: jogar aos leões a empreiteira líder em
obras e negócios no Programa de Aceleração do Crescimento. Lula quase
saiu do sério. Ele não chegou a reclamar diretamente com Dilma, mas
externou seu desconforto a auxiliares e parlamentares de sua confiança.
“A relação entre Lula e Dilma não chegou a azedar, mas deu uma
esfriada”, afirmou um deles a ÉPOCA.
Os que acreditam na tese do partido rachado dizem que a linha divisória
entre os dois PTs ficará mais clara a partir de agosto, quando o
Supremo Tribunal Federal começar a julgar o mensalão. Ao contrário de
Lula, Dilma planeja se manter afastada do processo e cogita participar
de campanhas de candidatos petistas a prefeito somente no segundo turno,
após o fim do julgamento. A tese petista sobre o mensalão sustenta que o
esquema envolvia apenas sobras de campanha de 2002 e liga o escândalo a
disputas eleitorais. Dilma teme associar sua imagem às disputas e não
quer nem ouvir falar em palanque.
Em privado, petistas com cargo na gestão Dilma já admitem um resultado
desfavorável aos eminentes réus do partido no julgamento: o ex-ministro
José Dirceu, o deputado João Paulo Cunha (SP), o ex-tesoureiro Delúbio
Soares e o ex-presidente do PT e ex-deputado José Genoino (SP). A
eventual condenação de todos eles poderá significar, ao menos em termos
simbólicos, a reprovação do governo Lula no campo da ética. Essa
possibilidade tem levado Lula a se alinhar com os réus numa campanha por
sua absolvição.
Já em 2005, no auge do escândalo, o então líder do governo no Senado,
Aloizio Mercadante, chegou a propor uma “refundação” do partido. Sete
anos depois, a chance parece ter ressurgido na esteira da popularidade
de Dilma. Hoje ministro da Educação, Mercadante passou décadas ao lado
de Lula, como um de seus gurus para a economia. Agora é só elogios à
presidente.
De volta a São Bernardo do Campo, seu berço político na Grande São Paulo, e mesmo em tratamento contra um câncer na laringe, Lula aceitou se ocupar da política partidária miúda. Dilma e seus auxiliares petistas ficaram ainda mais distantes da atividade, que a presidente diz detestar. “Lula voltou à articulação política numa situação nova. Antes, usava uma pressão indireta sobre as escolhas partidárias. E ganhava na maioria das vezes. Agora, usa o intervencionismo direto”, diz o cientista político Lincoln Secco, da Universidade de São Paulo e autor do livro História do PT. “Isso revela duas coisas: ele tem um poder muito maior no PT, mas isso tem custos políticos que nem sempre pode controlar. Vide o caso paulistano: ele impôs o candidato, Haddad, e acabou com as prévias. Mas há um setor do partido que simplesmente não entrou na campanha até agora.”
De volta a São Bernardo do Campo, seu berço político na Grande São Paulo, e mesmo em tratamento contra um câncer na laringe, Lula aceitou se ocupar da política partidária miúda. Dilma e seus auxiliares petistas ficaram ainda mais distantes da atividade, que a presidente diz detestar. “Lula voltou à articulação política numa situação nova. Antes, usava uma pressão indireta sobre as escolhas partidárias. E ganhava na maioria das vezes. Agora, usa o intervencionismo direto”, diz o cientista político Lincoln Secco, da Universidade de São Paulo e autor do livro História do PT. “Isso revela duas coisas: ele tem um poder muito maior no PT, mas isso tem custos políticos que nem sempre pode controlar. Vide o caso paulistano: ele impôs o candidato, Haddad, e acabou com as prévias. Mas há um setor do partido que simplesmente não entrou na campanha até agora.”
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